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Gaita e Efeitos

A utilização de pedais, filtros e truques de estúdio na gaita vêm de muito tempo. Tudo começou com Little Walter; preocupado em não perder espaço para as guitarras que haviam sido eletrificadas após a segunda guerra mundial ele adotou um procedimento simples, ligou um pequeno microfone em um amplificador e mudou de vez a história da gaita. Além de usar este método para obter mais volume ele também explorou novos timbres e efeitos até então inéditos. Segundo o pesquisador Madison Deniro ele foi o primeiro músico a utilizar, propositadamente, uma distorção eletrônica.
Você pode notar então que a história da guitarra elétrica se cruza com a história da gaita elétrica. Mas por alguns motivos, dentre eles o conservadorismo dos músicos e do público de blues (diga-se de passagem, que tem todo meu respeito e meu entendimento, pois é necessário exaltar e manter as raízes e a história, também) a gaita não acompanhou o desenvolvimento da guitarra. Nomes como Jimi Hendrix, Jeff Back, Jr. Tostoi, Tom Morello, tornaram a guitarra e seus pedais um instrumento mágico capaz de reproduzir infinitas texturas.

Mas alguns já ousaram e passaram essas barreiras, como Robert Plant (Led Zeppelin), Sugar Blue, Mark Ford, Mad Cat, Chris Michalek e John Popper. No Brasil alguns nomes com Júlio Rego, Vasco Faé, Guto Grandi, Jefferson Gonçalves, Bruno Castro e Rodrigo Eberienos também já introduziram o uso de pedais e efeitos em seus sons.

Bom, e como eu entro nesta história? A verdade é que hoje o uso de pedais e efeitos em minha música é minha principal característica, o que me levou a priorizar boa parte dos meus estudos e pesquisas nessa direção.

No final da década de 90 comecei a pensar em ser mais útil dentro de uma banda. Fosse ao blues rock contemporâneo do Nasty Blues ou ao pop, reggae e ska da Jam Pow. Como não domino muito bem outros instrumentos, veio à necessidade de alterar as texturas e timbres de minha gaita oferecendo assim mais opções de arranjos para tais bandas.

Comecei então minha pesquisa usando o POD 2.0 da Line 6 e depois passei para o XT. Esse emulador alem de eliminar o uso de amplificador, pois funciona como um pré amplificador se necessário, me oferecia inúmeros pedais por um baixo custo. Também tinha a possibilidade do uso de fone de ouvido, o que facilita o estudo dos efeitos em qualquer ambiente. Nesta época achei um mic Electro Voice 630 (dinamic) que por ter um sinal mais limpo, seria um grande aliado no futuro. Introduzi ao meu som logo depois o Whammy IV da digitech e pude também experimentar o V. Amp da Behringer, mas este não curti muito a qualidade dos timbres, com exceção do preset de fábrica de uma guitarra synth, que até hoje não consegui em nenhum outro pedal, e que pude utilizar bastante em algumas gravações (veja final de Wonder em http://leandroferraridiscography.blogspot.com/).


Num próximo momento tive a oportunidade de me enveredar pelo fantástico mundo dos plugins em gravações do 1º CD do compositor e baterista Toni Carvalho e de um projeto chamado Batrak,



em parceria com meu amigo de longa data, Rafael Carneiro. Consegui levar minhas pesquisas cada vez mais longe. A esta altura já alterava completamente o timbre original da minha gaita e tinha na verdade praticamente um outro instrumento em minhas mãos. Resolvi apelidar o uso dos efeitos na harmônica de “Gaita Synth” pra explicar os novos timbres sem causar tanto pânico. Mas senti alguns problemas, realmente tinha deixado de ser gaitista, já não era mais uma gaita o que eu tocava. Também não consegui reproduzir ao vivo uma parte do que fazia em estúdio. Parti então para uma nova fase, o uso de somente pedais analógicos.


Tornei-me um megalomaníaco e comprei muitos, mais muitos pedais sobre a orientação do Henrique Portugal (Skank), também estudioso do assunto. Adquiri um Fuzz Factory (Zvex), 4 Moogs (Phaser, Murf, Ring Modulator e Low Pass Filter), Boss Expressão e Volume (me inspirei em Mark Ford), Whammy II da Digitech (que possui o circuito IVL como o Whammy I, ou seja, o mesmo timbre), Pog (octave polifônico da Electro Hamonix). Swell Flanger Ibanez (bem raro), DL4 Line 6 (o melhor processador de Delay do mercado), FM4 Line 6 (stompbox filter modeler) e Roto-Machine Line 6 (rotary). Com tantos pedais montei uma mega pedaleira e fui gravar um CD

“Leandro Ferrari y Compadres” é um trabalho onde pude experimetar todos estes efeitos, ter contato com músicos de estilos variados, pude conhecer melhor as ambiências dub, o hip hop e a música eletrônica e também chegar a algumas conclusões. A idéia inicial era abandonar de vez o POD, o que não foi possível. Consegui bons timbres em estúdio com o POD associado aos pedais analógicos

.


Também não tinha resolvido totalmente o problema da ausência do timbre da gaita. Essa parte é interessante por que na verdade eu sempre ouvi o timbre da gaita. Sendo um instrumento acústico e que a caixa de ressonância é meu próprio crânio, ela sempre esteve presente aos meus ouvidos, mas não nas gravações. E eu agora tinha aumentado meus problemas de execução ao vivo do CD, pois coordenar tantos pedais analógicos sensíveis ao toque não é fácil. Percebi também que a esta altura já estava usando um pedal de 1.500, 00 reais para cada música. Tinha aumentado muito meu custo. Resolvi então voltar ao POD, agora o XT Live.



Observei então um grande ídolo, Tom Morello do Rage Against The Machine. Sua principal característica é ter vários timbres com o casamento criativo de apenas 4 pedais (Delay, Whammy, Distorção e Phaser). Parti para esta direção. Diminui a quantidade de pedais, eliminei de vez o POD e adquiri um Pré Amp (Tube-Pré Presonus). Alem disto outro grande detalhe, resolvi investir em um amp maior. Em boa parte desta história não usava amp, pois o POD me permitia isto. Sem o POD investi em um Duck /15W e depois em um Harp Emperor /25W (Serrano amps). Em seguida troquei meu Emperor por um cabeçote (Victory / 45W) e montei um mic Turner com uma CR Black muito boa (mic customizado pelo Fernando/PhoneBulltes). Estava decido a obter o melhor som vintage blues e usar alguns pedais estratégicos. A minha expectativa era solucionar o problema da ausência do timbre original da gaita.




Mas aí veio uma parte importante da minha pesquisa, algumas descobertas como, por exemplo, o fato de que distorção, mesmo as conseguidas por válvulas nem sempre casam bem com efeitos. Boa parte de efeitos usados por guitarristas são usados com a guitarra limpa. Outra coisa importante é que efeitos casam muito bem com notas longas e acordes. Abandonei o cromatismo e as gaitas valvuladas e passei a estudar gaitas com afinações especiais (menor natural, menor harmônica, menor melódica). Consegui então bons timbres com meus pedais ligados direto na mesa ou em um amp limpo e meu velho amigo EV 630; fazendo desta forma não uma fusão da gaita com efeitos, mas sim sons que andam em paralelo, ora uso efeitos, ora uso limpa na mesa (SM 58) dentro da mesma canção como vocês podem observar nos vídeoas abaixo:

Lista de Reprodução



De qualquer forma a gaita limpa na mesa ou no amp limpo, mesmo com efeitos ainda tem o tão esperado som de gaita.
Atualmente tenho ligado meu equipamento nesta ordem: mic AKG, POD X3, Whammy II, Delay Boss DD7 + Expressão Boss, Moogs Murf e Ring Modulator (opcionais, levo quando acho necessário) e Tube Pré Presonus.

Lista de Reprodução:


E a pesquisa continua.....
Espero ter ajudado a quem se interessa por esta busca de novos horizontes para a gaita.
Grande abraço!
Leandro Ferrari

Comentários

Unknown disse…
Obrigado Leandro. É difícil achar matérias tão esclarecedoras relacionadas à gaita e efeitos. Muito obrigado.
Leandro Ferrari disse…
http://leandroferrari.blogspot.com/2011/05/harmonica-effects.html

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