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DJ é músico?


Está longe da unanimidade a decisão da Berklee College of Music, uma das mais importantes escolas de música do mundo, de incluir cursos de DJs no currículo

JOÃO BERNARDO CALDEIRA

FOTO: O professor Stephen Webber ensina os seus alunos da Berklee: 'Estamos no mesmo estágio de há 40 anos, quando muitos da academia não achavam que rock era música'

A performance do DJ é tão autoral quanto a do músico? A polêmica volta à pauta graças à iniciativa da renomada universidade americana de música Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos, de incluir o aprendizado da atividade de DJ em seu currículo. Dessa forma, a instituição avaliza uma controversa questão: o DJ hoje tem de ser levado tão a sério quanto um músico. O mérito da guinada é do DJ, produtor, compositor e professor de produção musical e engenharia Stephen Webber, 45 anos, que há quatro tenta convencer os diretores da universidade da importância do curso.
Para Stephen, que conversou com o JB Online por telefone, de Boston, o toca-discos pode ser manuseado como um instrumento musical. "Mas, para muitos, dizer que a picape é um instrumento é como dizer que carro pode voar" diz.

O professor conta que começou a se interessar pelas picapes em 1997, quando seus alunos lhe deram uma fita de vídeo que exibia um campeonato de scratches – os arranhões e efeitos criados por meio do toca-discos, típicos da cultura hip-hop. Ele lembra que ficou "maluco" e logo descobriu que as tais fitas eram o único material de ensino disponível. "Era como tentar aprender a tocar guitarra assistindo a Jimi Hendrix!", compara.

Em 2000, Stephen lançou o livro Turntable technique: the art of the DJ (A técnica da picape: a arte do DJ), com fita de vídeo e DVD explicativos que hoje fundamentam o curso, já com oito alunos. O professor adaptou para as picapes até mesmo a partitura usada para instrumentos de percussão para "facilitar o diálogo entre o músico e o DJ". O manual vendeu tantas cópias que os diretores de Berklee concordaram em montar uma turma.

"Por um lado, fiquei surpreso de ter sido tão difícil convencê-los. Por outro, não acho que exista outra universidade de música onde isso pudesse acontecer. Foi uma questão de educar as pessoas", conta.

Parceiro de Lulu Santos, o DJ brasileiro Memê deu aulas para iniciantes do toca-discos em 1988, em um curso extra-curricular da Universidade Estácio de Sá. Ele elogia a iniciativa de Stephen, mas diz que o Brasil saiu na frente:

"A atitude é tardia, mas atual porque de uns dois anos para cá está explodindo essa coisa de DJs. Nós fomos os primeiros do mundo a fazer cursos, quando eles não existiam nem na Europa".

Ex-alunos da universidade de Berklee, entre os quais Quincy Jones, Diana Krall e Branford Marsalis, conquistaram um total de 99 Grammys. O Brasil está entre os cinco países com presença mais marcante no corpo discente da faculdade. O cantor brasileiro Jair Oliveira, um dos que se formaram na instituição, louva a iniciativa:

"Acho excelente. O DJ não é mais um marginal, muitos deles se transformaram em estrelas da música pop".

O maestro Francis Hime pondera: "A partir do momento em que o toca-discos produz som ele é um instrumento musical. A questão é estética, se você gosta ou não. É uma evolução, seja para melhor ou para pior".

Ex-aluno de Berklee, o saxofonista Léo Gandelman, cujo filho estuda na universidade, é a favor das experimentações: "Quem faz música está de olho no resultado final e às vezes passa por caminhos excêntricos".

Outro ex-aluno da universidade, o baixista Zeca Assumpção relativiza a questão: "Dou mais valor ao músico, mas não tiro a legitimidade do DJ. Nesse ponto Berklee está fazendo a coisa certa. Mas não sei responder se o DJ é um músico. Isso está para ser definido no futuro".

Já o cantor Zé Renato ressalva: "Tenho dificuldade em associar a categoria do DJ com a do músico. Mas pode ser uma limitação minha. Não estou fechado".

Stephen Webber é disc-jockey desde os anos 70, mas só nos anos 90 passou a aprender a técnica das picapes, que requer velocidade e estilo. Há uma diferença entre as duas funções: o DJ e o turntablist (palavra pouco usada no Brasil e mal traduzida para turntablista). O primeiro seleciona e mixa músicas que são tocadas em festas. O segundo, além de dominar a técnica de mixagem, usa a picape como instrumento percussivo, abusando dos scratches, efeitos e samples. Ele pode tanto compor um disco como participar de um campeonato de turntablistas ou discotecar numa festa.

Para Stephen, esta é a chave para se entender a função criativa das picapes. O toca-discos só se transforma em instrumento quando o DJ deixa de ser um mero "selecionador" de músicas:

"Meu curso lida com os dois aspectos da questão. O turntablista precisa ser primeiro um DJ, que é quem define um repertório de músicas agradáveis. Mas, quando o DJ usa a picape como um instrumento musical, ele se torna um turntablista. Estamos no mesmo estágio de há 40 anos, quando muitos da academia não achavam que rock era música. Tento provar que o DJ representa o principal movimento musical de nossos dias".

Para a jornalista Claudia Assef, autora do livro Todo DJ já sambou, embora existam professores informais do assunto, a novidade é que finalmente uma faculdade de prestígio como a Berklee admitiu que a arte do DJ é digna de estudo: "Stephen conseguiu provar que discotecar não é uma bobagem".

Fonte: JB ONLINE

Comentários

Unknown disse…
Bacana demais essa matéria, hein? Hoje nós que curtimos rock, jazz, blues e outras linhas musicais estamos definindo se esse ou aquele estilo é música ou não baseados em gosto pessoal. Repetimos o mesmo padrão antigo. "Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais".
Valeu o post.
bjooo

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