15/03/2011
"Nesta entrevista o Endorsee Bends Leandro Ferrari fala do uso da gaita em diversos estilos musicais, e dá detalhes sobre uso de pedais de efeito em sua técnica musical"
De que forma você comecou a buscar estes novos estilos, fora do blues?
“No inicio de 1999, fui convidado pelo cantor Bauxita para gravar algumas faixas com a banda Jam Pow. O grupo tocava gêneros como Ska, Pop, Rock e Reggae. Tudo pra mim era novidade, visto que desde 1990 havia trabalhado somente com bandas de blues rock na noite de BH. Este CD foi produzido pelo Haroldo
Ferreti e pelo Henrique Portugal, ambos integrantes do Skank.
Estava cada vez mais difícil manter um trabalho direcionado somente para o blues em minha cidade. Como sempre sobrevivi da música e almejava me profissionalizar cada vez mais, tive que buscar novos ares. São poucas as boas referências para gaita na música pop. Diferente do blues, samba, jazz, etc. Comecei então a copiar outros instrumentos e redescobri a música pop.”
De que forma percebeu que a gaita poderia se encaixar nestas novas propostas sonoras?
Após o CD participei também das turnês da Jam Pow e senti falta de colaborar um pouco mais. Comecei a pesquisar o uso de pedais e criar texturas como as produzidas por guitarras e sintetizadores. Funcionou e me senti mais útil e mais livre para tocar e conhecer novos gêneros e sonoridades (Hip Hop, Dub, Drum’n Bass, Pop, etc.). Sempre curti música pop e experimental. Usando pedais me senti realmente com liberdade para experimentar. Era uma novidade e naquele meio a idéia sempre foi bem-vinda.”
Quais foram as referencias musicais que abriram seus olhos para estes novos caminhos?
Já tinha ouvido John Popper, Robert Plant, Mark Ford, Sugar Blue e Mad Cat experimentarem essa idéia. O que eles tinham em comum, era que normalmente isso era feito sobre o blues ou rock. Resolvi arriscar um pouco mais, aumentar o número de pedais e não ter limites em relação às possibilidades musicais.
Com o tempo me liguei em outros instrumentistas que tinham a mesma de idéia de usar texturas diferentes em suas canções. Posso citar: The Edge, Tom Morello, Jr Tostoi, Herbie Hancock, Miles Davis, Hendrix, Gleison Túlio (MG), Sonic Youth, Radiohead e Jeff Beck. “
Como foram as experiências iniciais com os pedais e os efeitos?
“Deu trabalho, pois não existiam tantas referências como hoje. Tinha que comprar, usar e vender caso não desse certo. Tudo começou com os emuladores da Line 6. Esses equipamentos são indicados para os que não dominam completamente os pedais analógicos. Eles também captam melhor o som de um mic. Depois passei para os pedais e amplificadores e hoje cheguei aos pedais e pré-amp. Reafirmo meus
conceitos sobre os emuladores. Minha maior dificuldade era manter o timbre original do instrumento. Consegui isto cancelando o amp; já não tenho mais o timbre de guitarra associado ao meu som. Esse ponto, hoje, é meu diferencial em relação aos novos adeptos do uso de pedais na gaita. Considero três tipos de efeitos, os mais importantes: Delays, Oitavadores e Synths.”
-De que forma você mantem o blues presente no seu trabalho?
Lancei em 2006 o CD “Leandro Ferrari y Compadres” e pude conhecer mais a música Eletrônica, o Dub e o Hip Hop. Em 2010 lancei o CD “Fat Nasty”, que integra o blues aos gêneros usados no CD anterior.
Lembrei-me de uma critica do “Uncle” John Turner (ex-baterista do Johnny Winter) ao blues brasileiro. Em 1996 conheci o Uncle Turner no show do Nuno Mindelis em SP. Ele me disse estar decepcionado por vir ao Brasil conhecer o nosso blues e descobrir que na maior parte das vezes ele é uma réplica mal feita do blues americano. O CD “Fat Nasty” talvez seja uma resposta a essa critica. De qualquer forma eu ainda realizo festivais e acompanho bandas de blues brasileiras e de fora também. Está no sangue, por mais que eu esteja enferrujado, a gente nunca esquece ou deixa de sentir o blues. Como não gosto de seguir tendências e sim criar tendências, meu novo objetivo, após pesquisar novas texturas para a harmônica, é trilhar novos caminhos com ela.”
Como os músicos de outras áreas receberam seu trabalho, tocando estes estilos na gaita?
“Receberam com muito entusiasmo e curiosidade. A gaita é o instrumento mais carismático do mundo.
Todos amam a gaita e querem um pouco dela em seus trabalhos. Ainda não sou tão requisitado para gravações usando pedais, tanto quanto sou para o uso da gaita tradicional. Mas alguns se arriscaram e gostaram do resultado final. É tudo muito novo ainda. Há dez anos atrás eu era um “ET” e minha presença em "Encontros de Gaitistas" tinha que ser justificada ao final das minhas apresentações; quase um pedido de desculpas. Ainda bem que Flávio Guimarães, Sérgio Duarte, Rodrigo Eisinger, Carlos May, Bruno Castro, Júlio Rêgo, Thiago Cerveiras, Jr. Gaiatto, André Serrano e Rodrigo Eberienos me incentivavam a continuar o que outros haviam começado. A Bends abraçou a causa em 2007 e eu adiei minha internação para tratamento psicológico por mais alguns anos....
Em 2009 o Rildo Hora me fez um elogio no Fórum de Harmônicas de Fortaleza. Comecei a achar que não era tanta loucura assim! “
E qual a resposta do público? Qual o perfil de quem assite e escuta seu som?
“Tem uma galera curiosa e que sempre manda e-mails fazendo perguntas sobre minhas experiências com pedais, ou sobre as fusões que tenho feito. Normalmente fazem parte da geração Y, são bem novos e com a cabeça sempre antenada. O que mudou muito de dez anos pra cá, é que antes as pessoas procuravam as aulas de gaita por gostarem de blues. Hoje eles procuram as aulas, independente do estilo. E isso é muito bom para o instrumento. Meu trabalho também é consumido por outras faixas etárias. “
Porque a escolha do Marcelinho Guerra para produzir e como foi trabalhar com ele?
Quando conheci o Marcelinho, ele era um promissor estudante de guitarra na Pro Music (escola que ministrei meu curso de gaita de 1997 a 2009). Hoje ele está com 21 anos, se não me engano, e é um músico prodígio, extremamente talentoso e profissional. Eu reencontrei ele em 2009 na gravação do “Feira Moderna” da Rede Minas, no especial do Maurinho Nastácia. Conversamos sobre a possibilidade
de ele produzir meu novo CD. Como era um trabalho experimental e novo, nada melhor do que alguém que representa a nova geração de músicos de BH com extrema competência, criatividade e coragem. Topei na hora!”
Quais seus novos projetos?
Pretendo lançar ainda este ano meu método de gaita: “Gaita Folk, Pop & Rock – volume 1 e 2”. Estou em turnê divulgando meu novo CD e já pensando no próximo. Provavelmente lançarei um DVD do “Fat Nasty” antes deste próximo trabalho.”
http://www.bendsharmonicas.com.br/midia/noticias.php?COD_NOTICIA=669&mesEdicao=3
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